terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tentei pensar na dor





Tentei pensar na dor
da separação de filhos
nas circunstâncias de
Santa Maria.
Não consegui.
Há um bloqueio,
que me impede de pensar
nesse sentimento atroz
de partida inversa,
não natural,
cortante:
o rebento primeiro,
depois eu.
As filosofias de Epicuro,
de Lucrécio, de Sêneca,
não dão conta desse sentimento.
Nem mesmo a poesia de Dante,
em qualquer de seus três ciclos,
muito menos Santa Maria,
conseguirão arrancar do peito
de uma mãe, de um pai,
o aperto da perene ausência,
da fala nunca mais expressada,
dos gestos, outrora seguidos,
desde os primeiros passos,
dos cheiros, afetos, beijos,
agora apenas na mente,
nas lembranças,
corações,
em seus variados tons,
em sombras platônicas,
incompletas.
Só Deus,
para fazer os ajustes,
os aparos,
as amarras,
o consolar do humano inconsolável,
e tornar o que era vivência,
sobrevivência;
o que era riso,
sorriso;
o que era vida,
simples passagem,
à espera da partida,
para a vida eternal,
porque afinal,
não somos uma junção de átomos,

como ensinara Epicuro,
mas a imagem e semelhança do Criador,
Autor e Consumador de todas coisas!


Juscelino V. Mendes






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